quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Á luz do sol parece-me que os dias têm as noites contadas, subentendidas e impossíveis. E sinto o corpo longínquo, como uma perspectiva do imaginário onde interfiro o pensamento. Quando assim é costumo acender meu nome, mas não o faço. Quando assim é costumo olhar um espelho, mas não o encontro. Assim, sem corpo para interferir no pensamento, oiço-me muito alto, tão alto que a noite se supõe a tudo. Algo infantil e cruel se exalta antecipando a morte. Será uma fé qualquer que desperto, ou a noite tinge imperceptivelmente o dia? Seja como for algo antigo venceu. Só me resta saber como ocupar-me de mim de maneira que os outros não sintam que me desocupo deles e perseguir-me. Escapar-me-ei pelas cerimónias nocturnas enquanto puder.

domingo, 5 de julho de 2009

Vila Final

Novamente os rostos rudes do campo.
E depois os góticos da provincia, "vieste à cidade?" diz-me a Ana.
E os metaleiros juntam-se na linha da frente para abanar o cabelo.
Thanatoschizo e depois My Enchantment.
A negra à entrada está irritada comigo por eu ser da imprensa e ela não me governar.
Ai... todas estas pessoas que uma vez me amaram, já não me olham, porque eu desapareci. Fico sozinho a observar a banda, e apetece-me fugir a mil à hora de todos. Bebo à borla com vontade de cuspir tudo.
Ainda não tenho a certeza se ela também veio esta noite, mas alguma coisa na Vila Final a fez refem, e mesmo se não veio, uma parte ficou.
No fim da noite um pastor alemão. As horas de espera.

Os cães uivam em histeria.
Não ha nada aberto.
Volto à estação.
Os cães uivam já roucos.
O pastor alemão passa.
Passado um pouco passa de novo e impossivelmente, na mesma direcção.
Um homem nu (só com tenis desportivos) está num monte de terra que mais parece barro, a sua barba do tamanho do seu cabelo e o seu cabelo comprido. Ao ver-me grita qualquer coisa. Desce como uma cabra. Três cães seguem-no, e quando chega a mim está já a meio de um discurso em voz de noticiario. em inglês ouço "you've never been there... now... I just want to shoot at you!", depois, sem se quedar muito tempo, começa a caminhar em trajectos rectos num perimetro envolta do mesmo centro.

Não percebo como é que tudo isto faz sentido, como é que nada mais faria sentido naquele momento.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

os olvidos
pulsos do vento
em suicídio,
cabeceando o ombro,
descobrem os escombros
das pálpebras entretecendo
sob a luz da casa, o escuro socorro do sono.
na tarde
precipitámos a noite
do astro de nossas bocas vertendo silêncio
de teu corpo relâmpago em mãos
abrindo horas, meses, anos e
escorremos e fomos muitos e
pouco e mãos e
medo e …
reencontramo-nos eras segredo e
eu já nem sou…
de fugir para ti,
sem que a fuligem da noite plúmbea
adie os concêntricos de sono e sede,
recendida.
sou ora habitante do escuro ora
lembro-me…

quinta-feira, 18 de junho de 2009

"Squash Every Week Into a Day"

Gosto de ti se derrubas a realidade
se o tempo perde o tempo
e te faz ser as manhãs e as distâncias
de rua.
Se te faz ser o entardecer, e os esgares
de Lua.
Se as mãos que são minhas são tuas
se construiremos o mundo,
independentemente do mundo.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Eu conheci-te numa noite destas...

Eu conheci-te numa noite destas, eu sei que sim. Conheci-te algures, não me recordo onde nem como nem sequer do que falámos, mas sei que foi importante. As tuas palavras… Sábias, indispensáveis. Tu mostraste-me a verdade em tão pouco!...
Gostava de me lembrar de ti, mas fugiste-me da memória. Nem sequer sei o teu nome, não conheço o teu rosto, a tua voz… Nada! O que me ficou foi algo meio abstracto, inalcançável, mesmo como se não tivesse acontecido, ou fosse sonhado, como aqueles sonhos que sabemos que tivemos, mas nos escapam os pormenores… Como um disco riscado ou uma fita deteriorada pelo tempo.
No entanto, é bom recordar-te, sentir o eco de ti que me foge. É, ao mesmo tempo, como se estivesses sempre por perto.
Ainda bem que te conheci.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

nós sem nós

é o melhor sexo
do teu sexo
em todo o sexo
que tu já empregaste,
mas a tua ida
não tem volta
e são poucos os caminhos
que já trilhaste

e já o coração dizia que a mentira não é feia se cozida em água fria.